"A educação pelo trabalho é mais do que uma educação comum pelo trabalho manual, mais do que uma pré-aprendizagem prematura; baseada na tradição, mas prudentemente impregnada pela ciência e pela mecânica contemporâneas, ela é o ponto de partida de uma cultura cujo centro será o trabalho."

Célestin Freinet

(A Educação do Trabalho, Ed. Martins Fontes, 1998, pg. 315)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

PEDAGOGIA DO BOM SENSO

Este é o primeiro texto do livro Pedagogia do Bom Senso, de Célestin Freinet.
Pedagogia do Bom Senso
    "Você vai procurar bem longe os elementos de base da sua pedagogia. Para isso são necessárias considerações intelectuais e vocábulos herméticos, cujo segredo só os universitários possuem. E é a tradição referir-se a Rabelais, Montaigne e J.J. Rousseau, para só falar dos pensadores cuja reputação é, há muito, inatacável.
    Mas você tem certeza de que a maior parte dessas ideias que os intelectuais julgam ter descoberto não correm desde sempre entre o povo, e de que não foi o erro escolástico que lhes minimizou e deformou a essência, para monopolizá-la e subjugá-la?
    Veja então como, entre o povo, são tratados e educados os pequenos animais: você encontrará aí a origem dos grandes princípios educativos aos quais estamos voltando lentamente, quase que de má vontade...
    Nada de aprendizagem prematura, dirá o caçador. O cão novo demais se cansa e se desencoraja. As suas reações e o seu faro correm o risco de ficar perturbados para sempre.
    Está certo que o cão tem que caçar para se formar, mas não demais ao sabor do seu capricho. A caça é uma coisa séria, para a qual o cão novo será treinado em companhia de cães excelentes, tendo apenas que seguir o exemplo deles.
    Apetite e motivação: se você encher o seu cão de petiscos que não lhe são específicos, se ficar gordo e cevado, por que você quer que ele cace?
    E quando a lebre for apanhada, não basta pô-la logo na bolsa de caça. Há toda uma arte do caçador para satisfazer o cão, deixando-o mordiscar o animal morto, mas limitando sua satisfação para fazê-lo compreender que não deve ser o único a aproveitar da pechincha.
    Nunca se deve bater nos animais novos. Deixe-os ou faça com que sejam castigados por outra pessoa, se necesário; mas nunca será pelo medo que você alcançará seus fins.
    E os apicultores lhe dirão: nada de gestos bruscos que despertam as reações de defesa dos animais com que você lida - confiança, bondade, ajuda e decisão.
    E eu lhe digo que, se fôssemos procurar assum, na tradição popular, as práticas milenares do comportamento dos homens na educação dos animais, estaríamos em condições de escrever o mais simples e o mais seguro de todos os tratados de pedagogia."
C. Freinet, Pedagogia do Bom Senso, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1996, pg. 03. 


Leia mais: http://www.redefreinet.com.br/pedagogia-do-bom-senso/

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