"A educação pelo trabalho é mais do que uma educação comum pelo trabalho manual, mais do que uma pré-aprendizagem prematura; baseada na tradição, mas prudentemente impregnada pela ciência e pela mecânica contemporâneas, ela é o ponto de partida de uma cultura cujo centro será o trabalho."

Célestin Freinet

(A Educação do Trabalho, Ed. Martins Fontes, 1998, pg. 315)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Projeto cinema: as novas linguagens e a Livre Expressão no fundamental II


Relato da comunicação

Por Rafael Gonzaga de Macedo

Em 1991, numa entrevista para o jornal Folha de São Paulo, o fotógrafo Cartier-Bresson, ao ser questionado sobre a importância de uma formação cultural consistente para a sua atividade de fotógrafo respondeu:
“Tantas pessoas que fazem fotos não são visuais. Elas não olham. Elas registram, mas não é um olhar. É muito difícil olhar, compreender as proporções. É uma interrogação perpétua, uma fruição do olhar, uma exaltação maravilhosa. As pessoas têm olhos que não desfrutam. É seu cérebro que desfruta.” [1]
            No Primeiro Encontro Campinas de Educadores Freinet, ocorrido no dia 05/05/12, na escola Curumim, participamos da comunicação sobre “Projeto cinema: as novas linguagens e a livre expressão no fundamental II”, organizada pelos professores da escola Curumim Zelindo Barbosa e Gustavo Scolfaro. A resposta de Cartier-Bresson é importante porque converge de maneira muito próxima e exemplar com as questões levantadas em grupo. Assim como a resposta do fotógrafo, também discutimos a importância de uma “educação do olhar”, ou melhor, de uma educação da sensibilidade.
É claro que fotografia e cinema são linguagens distintas. No entanto, ambas dependem decisivamente do olhar. Mesmo diante de uma fotografia, teoricamente imóvel – para utilizar um termo análogo de imagem em movimento associado ao cinema – atribuímos-lhes movimento por meio do olhar educado para e pelo movimento, porque nunca vemos somente aquilo que se mostra na superfície da imagem. No mesmo sentido de que para Kandinsky, uma linha era um ponto em movimento. Assim, é totalmente válido partimos das palavras de Cartier-Bresson para sintetizar aquilo que foi discutido na “comunicação”.
Olhar é tocar a distância. Mas não é só tocar: é, também, ser tocado pelas coisas que olhamos. Porém, ao educarmos nosso olhar, passamos a tomar consciência da ingenuidade da nossa percepção e a questionar o que nos toca e é tocado por nós mesmo em nosso olhar. É deixar, portanto, de ser inocente frente à imagem e ao que ela nos suscita, não no sentido de desnudar o “ilusório” que haveria por detrás de todo olhar, mas de perceber que toda visão é direcionada e construída; que toda imagem está submetida a esquemas de percepção, muitas vezes, anteriores à nossa própria consciência “racional”.     
Uma educação do olhar, portanto, abre possibilidades para deixarmos de apenas “registrar” as coisas, mas realmente vê-las naquilo que elas nos vêem. Todavia, não se trata de encontrar respostas definitivas sobre a “verdade” “essencial” das coisas, muito pelo contrário, trata-se de tomar uma postura de constante auto-reflexão e, como diz Cartier-Bresson, de uma interrogação perpétua diante da obviedade da visão e da percepção.


[1] Folha de S. Paulo, Multimídia, 8.12.1991