Relato da comunicação
Por Rafael
Gonzaga de Macedo
Em
1991, numa entrevista para o jornal Folha de São Paulo, o fotógrafo
Cartier-Bresson, ao ser questionado sobre a importância de uma formação
cultural consistente para a sua atividade de fotógrafo respondeu:
“Tantas pessoas que fazem fotos não
são visuais. Elas não olham. Elas registram, mas não é um olhar. É muito
difícil olhar, compreender as proporções. É uma interrogação perpétua, uma
fruição do olhar, uma exaltação maravilhosa. As pessoas têm olhos que não
desfrutam. É seu cérebro que desfruta.” [1]
No Primeiro Encontro Campinas de Educadores Freinet, ocorrido no dia
05/05/12, na escola Curumim, participamos da comunicação sobre “Projeto cinema: as novas linguagens e a
livre expressão no fundamental II”, organizada pelos professores da escola
Curumim Zelindo Barbosa e Gustavo Scolfaro. A resposta de Cartier-Bresson é
importante porque converge de maneira muito próxima e exemplar com as questões
levantadas em grupo. Assim como a resposta do fotógrafo, também discutimos a
importância de uma “educação do olhar”, ou melhor, de uma educação da
sensibilidade.
É
claro que fotografia e cinema são linguagens distintas. No entanto, ambas dependem
decisivamente do olhar. Mesmo diante de uma fotografia, teoricamente imóvel –
para utilizar um termo análogo de imagem
em movimento associado ao cinema – atribuímos-lhes movimento por meio do
olhar educado para e pelo movimento, porque nunca vemos somente aquilo que se
mostra na superfície da imagem. No mesmo sentido de que para Kandinsky, uma
linha era um ponto em movimento. Assim, é totalmente válido partimos das
palavras de Cartier-Bresson para sintetizar aquilo que foi discutido na
“comunicação”.
Olhar
é tocar a distância. Mas não é só tocar: é, também, ser tocado pelas coisas que
olhamos. Porém, ao educarmos nosso olhar, passamos a tomar consciência da
ingenuidade da nossa percepção e a questionar o que nos toca e é tocado por nós
mesmo em nosso olhar. É deixar, portanto, de ser inocente frente à imagem e ao
que ela nos suscita, não no sentido de desnudar o “ilusório” que haveria por
detrás de todo olhar, mas de perceber que toda visão é direcionada e
construída; que toda imagem está submetida a esquemas de percepção, muitas
vezes, anteriores à nossa própria consciência “racional”.
Uma
educação do olhar, portanto, abre possibilidades para deixarmos de apenas
“registrar” as coisas, mas realmente vê-las naquilo que elas nos vêem. Todavia,
não se trata de encontrar respostas definitivas sobre a “verdade” “essencial”
das coisas, muito pelo contrário, trata-se de tomar uma postura de constante auto-reflexão
e, como diz Cartier-Bresson, de uma interrogação perpétua diante da obviedade
da visão e da percepção.
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