Durante todo o verão, o rebanho de ovelhas ficara na montanha, confiado à guarda do pastor, que de modo algum parecia sobrecarregado com a responsabilidade dos seus mil animais.
Por Saint-Michel, voltavam para a aldeia. Cada um de nós "apartava" o seu pequeno rebanho, e trinta jovens pastores partiam, em seguida, através dos campos de restolho, ainda ricos em erva verdejante, para passarem pela aprendizagem de condutores de carneiros.
Tinham-nos ensinado as leis e as regras que aplicávamos ao pé da letra, como o guarda executa as ordens na estrada.
- Cuidado para as ovelhas não escaparem e estragarem os feijões!
- Não deixem os cordeiros afastarem-se do rebanho, senão vocês poderão perdê-los!
- Cuidado com as moitas cheias de cobras e com a luzerna que incha os animais!
- Não levem os animais para o lado das rochas, pois eles poderiam ficar entalados!
Outras tantas preocupações obsessivas que não nos deixavam em paz, e nem aos nossos animais: daqui!... dali!... Um pouco mais e teríamos cercado ovelhas e carneiros para não os perder de vista, preferindo trazer-lhes capim e galhos... se eles aceitassem.
Trabalho de aprendiz que ainda não compreendeu nada do caráter e do comportamento dos seus animais.
Quanto ao pastor, partia calmamente atrás do seu rebanho. Uma palavra, um grito, lançados oportunamente, e os animais seguiam na direção que o pastor sabia de antemão onde ia dar. Vão passar lá embaixo!... Daqui a pouco vamos encontrá-los acima das barreiras. Esta noite descerão pelas encostas!...
O pastor dormia, o cão dormia; os animais comiam até se fartar, livremente. Trabalho de mestre que conduz o seu rebanho com uma ciência e uma filosofia cujas linhas eficientes deveríamos procurar, para darmos à nossa pedagogia a quietude e a humanidade próprias das obras conscientes.
C. Freinet, Pedagogia do Bom Senso, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1996, pg. 07.
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