"A educação pelo trabalho é mais do que uma educação comum pelo trabalho manual, mais do que uma pré-aprendizagem prematura; baseada na tradição, mas prudentemente impregnada pela ciência e pela mecânica contemporâneas, ela é o ponto de partida de uma cultura cujo centro será o trabalho."

Célestin Freinet

(A Educação do Trabalho, Ed. Martins Fontes, 1998, pg. 315)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O mestre e o aprendiz

     Durante todo o verão, o rebanho de ovelhas ficara na montanha, confiado à guarda do pastor, que de modo algum parecia sobrecarregado com a responsabilidade dos seus mil animais.
    Por Saint-Michel, voltavam para a aldeia. Cada um de nós "apartava" o seu pequeno rebanho, e trinta jovens pastores partiam, em seguida, através dos campos de restolho, ainda ricos em erva verdejante, para passarem pela aprendizagem de condutores de carneiros.
    Tinham-nos ensinado as leis e as regras que aplicávamos ao pé da letra, como o guarda executa as ordens na estrada.
    - Cuidado para as ovelhas não escaparem e estragarem os feijões!
    - Não deixem os cordeiros afastarem-se do rebanho, senão vocês poderão perdê-los!
    - Cuidado com as moitas cheias de cobras e com a luzerna que incha os animais!
    - Não levem os animais para o lado das rochas, pois eles poderiam ficar entalados!
    Outras tantas preocupações obsessivas que não nos deixavam em paz, e nem aos nossos animais: daqui!... dali!... Um pouco mais e teríamos cercado ovelhas e carneiros para não os perder de vista, preferindo trazer-lhes capim e galhos... se eles aceitassem.
    Trabalho de aprendiz que ainda não compreendeu nada do caráter e do comportamento dos seus animais.
    Quanto ao pastor, partia calmamente atrás do seu rebanho. Uma palavra, um grito, lançados oportunamente, e os animais seguiam na direção que o pastor sabia de antemão onde ia dar. Vão passar lá embaixo!... Daqui a pouco vamos encontrá-los acima das barreiras. Esta noite descerão pelas encostas!...
    O pastor dormia, o cão dormia; os animais comiam até se fartar, livremente. Trabalho de mestre que conduz o seu rebanho com uma ciência e uma filosofia cujas linhas eficientes deveríamos procurar, para darmos à nossa pedagogia a quietude e a humanidade próprias das obras conscientes.

C. Freinet, Pedagogia do Bom Senso, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1996, pg. 07. 

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